A reportagem do Fantástico teve acesso, com exclusividade, à investigação da Polícia Federal e aos depoimentos dos policiais que tinham sido delatados por Vinicius Gritzbach, assassinado no aeroporto de Guarulhos, em novembro de 2024. Presos em dezembro pela Polícia Federal, os agentes são investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e envolvimento com o crime organizado.
Vinicius Gritzbach foi preso em 2022, acusado de matar um líder do PCC. Em delação ao Ministério Público, o empresário disse ter uma relação conturbada com os agentes.
De acordo com a investigação, todos os policiais presos mantinham um padrão de vida incompatível com seus salários.
Em depoimentos à Polícia Federal, os agentes presos descrevem Vinicius Gritzbach como "um cara muito astuto", "inteligente" e "perigoso".
Um deles é Marcelo Marques de Souza, conhecido como Bombom, que se referiu a Vinicius como "mauricinho":
"Nunca conheci o Vinicius, nunca tive acesso ao Vinicius. O Vinicius sempre foi um cara mauricinho lá no bairro, ele não dava bola para qualquer pessoa", afirmou Bombom.
O salário dele é de R$ 12 mil, como investigador especial, mas, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), houve movimentações suspeitas de R$ 34 milhões, entre 2017 e 2022, na conta de um possível laranja dele.
“Sou um cara humilde, sou um cara que trabalho, ganha um dinheirinho, faço as minhas coisas ali”, reforçou Bombom.
Debaixo da cama do investigador, foram encontrados cerca de R$ 680 mil. Bombom disse que uma parte seria de um amigo empresário que pediu para ele guardar, e outra parte seria da sogra.
“Aquele dinheiro que tinha numa sacolinha pequena. Eu tinha pego com ele, eu nem sabia quanto que tinha”, disse Bombom, que também negou conhecer a maioria dos investigados.
A PF também encontrou, no apartamento de Bombom, uma planilha com 93 nomes de pessoas, relacionados a endereços e valores. Segundo a investigação, seria uma lista de "recolhe" - extorsão praticada por agentes públicos contra comerciantes. Entre os endereços, estão casas de prostituição e de jogos de azar.
Em nota, a defesa de Marcelo Marques diz que planilha de “recolhe” foi entregue a ele para fins de investigação policial e afirma também as acusações são infundadas e sem comprovação.
Quem também ganha salário de R$ 12 mil é o investigador Eduardo Monteiro, braço direito do delegado Fábio Baena. Em uma das conversas, ele menciona um carro de luxo. Ao ser questionado pela PF sobre concessionária, ele afirmou que está no nome da esposa.
Ao Ministério Público, Gritzbach afirmou que, quando ele foi preso, Eduardo Monteiro ligou para integrantes do PCC para "fazer um acerto". À PF, o policial negou a acusação e chamou Gritzbach de “criminoso articulado”, “mentiroso” e “psicopata”.
“Sou investigador de polícia há 28 anos. O Vinicius é um criminoso articulado, mentiroso e psicopata. Ele cria a história. Ele tenta desviar a investigação", disse o investigador à PF.
Em conversas entre os dois, Gritzbach demonstra intimidade e chega a chamá-lo de “Du”.
Já sobre o delegado Fábio Baena, Vinicius afirmou que ele pediu R$ 30 milhões para livrá-lo da investigação por homicídio. A PF também questionou o delegado sobre uma ligação entre os dois.
Tenho que confessar que eu caí numa armadilha, doutor, mas eu fui ameaçado pelo Vinicius. Eu tinha muita preocupação. minha família estava andando de carro blindado justamente por causa disso. Ele roubou o PCC, mandou matar o PCC. O que ele faria comigo?", alegou Baena.
Outro preso foi Rogério de Almeida Felício, chamado de Rogerinho. Segundo Gritzbach, ele roubou relógios de luxo durante a operação no apartamento dele. À PF, o policial disse que comprou réplicas. Segundo o agente, apenas um dos modelos é original, mas foi presente de um cantor sertanejo para quem fazia segurança.
Rogério de Almeida Felício, um dos presos no caso que investiga morte de Vinicius Gritzbach — Foto: Reprodução/Fantástico
A reportagem do Fantástico não conseguiu contato com a defesa de Rogerinho. Os representantes do delegado Fábio Baena e do investigador Eduardo Monteiro afirmam que as prisões são "ilegais", "desnecessárias" e "arbitrárias".
A Polícia Civil já prendeu 26 pessoas suspeitas de envolvimento no caso Gritzbach, sendo 22 policiais. O cabo Denis Martins e o soldado Juan Silva Rodrigues são apontados como os atiradores, e o tenente Fernando Genauro, como motorista dos assassinos.